Identidade em Movimento: O navio de Teseu e o WordPress
De versões de software a fases da vida, tudo muda o tempo todo. Mas existe algo em nós que permanece? Uma reflexão sobre identidade, propósito e o que nos ancora no meio da mudança.
No início de 2025, tive a oportunidade de assistir à excelente palestra de Matías Ventura no WordCamp Asia, em Manila (Filipinas), e suas observações pertinentes me chamaram à reflexão, essencialmente sobre mudança.
Matías, o Arquiteto-Chefe do WordPress, conduz seu trabalho com uma abordagem singularmente filosófica, combinando tecnicidades e ideias provocantes, e tenho a sorte de conhecê-lo, além de admirá-lo. Sua palestra que mencionei, intitulada “There and Back Again” (“Lá e de volta outra vez”, como o livro de Tolkien), refletiu sobre a evolução do WordPress ao longo das últimas duas décadas. (Assista aqui.)
Em seu tema central, tratou de como a plataforma passou por transformações significativas, mas continua o mesmo WordPress em sua essência. Ainda que tenha se adaptado às necessidades da web moderna, sua filosofia subjacente permanece firme: democratizar a publicação e empoderar os usuários.
O paradoxo do Navio de Teseu
Para abordar o tema, Matías recorreu ao famoso experimento filosófico do Navio de Teseu: se todas as partes de um navio fossem gradualmente substituídas, ele ainda seria o mesmo após a troca completa de suas peças? Partindo da lógica de quem responde “sim”, ele conectou esse paradoxo à trajetória do WordPress. Ao longo dos anos, a plataforma teve sua arquitetura, interface e funcionalidades profundamente transformadas — e, ainda assim, manteve sua essência intacta. Talvez o segredo do seu sucesso seja justamente esse: ter abraçado a inovação sem jamais perder de vista sua missão original. (O paradoxo explicado em 90')
Palestra encerrada, me debati um pouco mais com a questão. Até que ponto algo pode transformar-se sem deixar de ser o que era antes?
E a mudança na perspectiva humana? Como fica?
A questão da substituição das peças de um todo, como ideia, não se aplica apenas a produtos ou empresas, mas também a nós, como entidades celulares. Hoje, podemos afirmar cientificamente que nossos corpos passam por uma renovação total ao longo do tempo. Células da pele se regeneram em semanas, ossos demoram alguns anos, mas tudo decai, morre e se renova até que não possa mais fazê-lo. E, mesmo assim, ainda nos consideramos o mesmo indivíduo que viveu nossa infância.
Ideias centrais como âncoras da Identidade
Mas espera. Se o WordPress continua sendo o WordPress apesar de toda a transformação, e se nós permanecemos nós mesmos mesmo durante essa constante renovação biológica, o que realmente define nossa identidade? Talvez, como sugeriu Matías, o que nos mantém quem somos sejam as ideias centrais que carregamos.
Já escrevi sobre como é difícil encontrar um propósito ao longo da vida, portanto não serei assim tão raso. Mas talvez os princípios fundamentais que moldam nossa visão de mundo sejam o mais sólido ponto de partida para essa busca.
E agora, qual é a constante?
Todo esse papo serviu para me relembrar quais são as minhas ideias centrais e avaliar quais princípios permaneceram intactos, apesar das tantas transformações às quais o tempo nos submete. Explorar isso no futuro mas, por ora, deixo o convite à reflexão:
Que ideias centrais fazem você se sentir a mesma pessoa que amou (ou detestou) aquela primeira ida à escola?